Suzanne Jacobs Fiss - 2005.
Sobre a taipa que sobrevive, desenha e permeia os espaços
por entre os braços da minha cidade, deitam-se - coletores e sombreiros,
do tempo desbravadores - rústicos planos de barro e água e suor de oleiros
escravos de homens, livres de pensamento;
escultores de obras seqüenciais, nunca iguais:
telhas cerâmicas de um fazer lento, ora canal, ora capa,
moldadas sobre a coxa por um tapa
após outro e outro até o aceite;
até que, no chão, ao sol, se deite
cada parte do disperso mosaico que o calor desidrata e eterniza
e até aos caibros e ripas mobiliza
em ondas ritmadas, perfeitas e calhas resignadas, estreitas -
duas faces da mesma beleza: uma para o céu sobre o limo,
a outra, sob o telhado, volta-se ao abrigado -
aos escravos, nas charqueadas; nos solares, aos senhores;
estes, feitores do intento; aqueles, os escultores
e, não raro, rebocadores de longas e esguias pelotas,
puxando telhas por rotas pelas barrancas do arroio -
Deus sabe pra onde, o comboio!
Mas ora, na taipa, o que habita é o talento.
A despeito de quem vive dentro, como notas que vencem o tempo,
há um registro de cada anseio...
Um sonoro poema que eu leio nos telhados da minha cidade.
- aos telhados artesanais de Pelotas -
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