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Telhados da minha cidade

Atualizado: 25 de ago. de 2020

Suzanne Jacobs Fiss - 2005.

 

Sobre a taipa que sobrevive, desenha e permeia os espaços

por entre os braços da minha cidade, deitam-se - coletores e sombreiros,

do tempo desbravadores - rústicos planos de barro e água e suor de oleiros

escravos de homens, livres de pensamento;

escultores de obras seqüenciais, nunca iguais:

telhas cerâmicas de um fazer lento, ora canal, ora capa,

moldadas sobre a coxa por um tapa

após outro e outro até o aceite;

até que, no chão, ao sol, se deite

cada parte do disperso mosaico que o calor desidrata e eterniza

e até aos caibros e ripas mobiliza

em ondas ritmadas, perfeitas e calhas resignadas, estreitas -

duas faces da mesma beleza: uma para o céu sobre o limo,

a outra, sob o telhado, volta-se ao abrigado -

aos escravos, nas charqueadas; nos solares, aos senhores;

estes, feitores do intento; aqueles, os escultores

e, não raro, rebocadores de longas e esguias pelotas,

puxando telhas por rotas pelas barrancas do arroio -

Deus sabe pra onde, o comboio!

Mas ora, na taipa, o que habita é o talento.

A despeito de quem vive dentro, como notas que vencem o tempo,

há um registro de cada anseio...

Um sonoro poema que eu leio nos telhados da minha cidade.


- aos telhados artesanais de Pelotas -

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