Por Mauro Cheuiche - julho/2013.
Quando a ABEFAP ainda era a "caixinha", usava-se, nas Agências da Caixa, aplicar trotes nos funcionários novatos. Da antiga Agência Pelotas, situada onde hoje é o auto atendimento, na rua Sete esquina Anchieta, os colegas mais antigos ainda lembram dos episódios marcantes na vida das "vítimas" que sofriam brincadeiras que podiam ser bem pesadas. O saudoso Wilson Ely Bertoni Paiva, por muitos anos tesoureiro da Agência, quando admitido foi lotado no serviço de compensação. A compensação de cheques e outros papéis era realizada no antigo prédio do Banco do Brasil, em diagonal à Prefeitura, onde hoje é o desativado financeiro da própria Prefeitura. Conduzido por Manoel Cardoso da Silva, o hoje Comodoro Maneca, Paiva foi ter sua estreia. Enquanto ele aprendia os deveres do ofício, o representante do antigo Banco Agrícola Mercantil, um exímio desenhista e maqueteiro, deslizou pelo chão em meio às mesas, e colou com durex duas enormes esporas de papel nos sapatos do Paiva. Quando a sessão terminou, Paiva voltou com o Maneca para a Agência, atravessando a Praça Cel. Pedro Osório, causando boas risadas nos transeuntes. Quando chegou na Agência e se deu conta dos "enfeites" ficou num vermelhão só. Essas recepções hilárias, com o tempo, eram sempre lembradas com nostalgia e até mesmo com orgulho.
Mário Luis Lobo dos Santos Silva, quando foi admitido, foi chamado pelo Gerente que determinou-lhe que fosse a um outro estabelecimento bancário buscar a "máquina de achar diferenças" que não havia sido devolvida. Chegando lá o outro gerente informou que havia emprestado a máquina ao gerente de outro banco que estava em dificuldades necessitando muito do equipamento. E lá se foi o Mário buscar a "máquina". Foi então comunicado que a engenhoca fora emprestada para outro estabelecimento. Aí caiu a ficha. Mário percebeu que algo estava errado. Voltou para a Agência onde era esperado com boas risadas.
Nos outros bancos a história era a mesma. Fernando Carlos Plá, do Sul Brasileiro, sempre conta que seu primeiro serviço foi na Compe e, após o encerramento, o chefe mandou que lavasse todas as folhas de papel carbono para sua reutilização no dia seguinte. Quando o Plá terminou parecia que tinha saído de uma mina de carvão.
O inesquecível Paulo Alberto Salgado Fico, quando foi admitido, foi trabalhar junto aos caixas da Agência Pelotas. O escriturário encaminhava os pedidos de saque/depósito dos clientes para o Caixa Executivo já com as cadernetas, guias de saque/depósito preenchidas e assinadas e com os relatórios já alterados. O CaEx, a medida que ia atendendo os pedidos, repassava as cadernetas com o dinheiro ou a informação de saldo ao escriturário que chamava os clientes pelo nome e entregava as cadernetas com/sem dinheiro. Uma caderneta falsa foi repassada para o Fico que, muito sério, gritou o nome do "cliente" - JACINTO LEITE! JACINTO LEITE! O pessoal rolava de tanto rir. Clientes inclusive. E o Fico chamava e nada do Jacinto aparecer. De repente o coitado se deu conta e correu para o banheiro e de lá não queria mais sair de tanta vergonha. Quando contou-me esse episódio foi como uma lembrança feliz, de uma época cheia de humanidade.
Hoje a coisa mudou muito de figura. Os trotes não acontecem mais em banco algum por receio de medidas judiciais como dano moral ou bullying ou porque não há clima mesmo. Apenas as metas interessam e, cada vez mais, os empregados são dentes de uma engrenagem imensa. Só isso.
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